Desafios para 2018: continuar a pensar e construir a renovação da formação de professores

22-01-2018

Alexandra Gomes

É fundamental preparar professores que, além de dominarem os conteúdos, conheçam a didática específica destes, de forma a ajudarem os seus alunos a aprender.


A cada novo ano, renovam-se as intenções de mudança e estipulam-se inúmeros novos ou repetidos objetivos. Trata-se de um ritual curioso, tanto mais que consiste apenas na passagem de um dia para outro! Todavia, a intensidade com que vivenciamos essa mudança ajuda-nos a refletir na nossa experiência e a (re)pensar nos desafios que nos colocamos para o futuro mais imediato. Este breve texto dá voz a algumas dessas reflexões.

A formação de professores e, em particular, a formação de professores dos primeiros anos de escolaridade, que é o âmbito da minha atividade profissional e investigativa, emerge claramente no meu pensamento e nos meus propósitos para este novo ano. A formação de professores dos primeiros anos merece uma atenção especial porquanto estes professores lidam com o início de um percurso escolar, podendo por isso condicionar, para o bem ou para o mal, as aprendizagens futuras das crianças e jovens. Isto é sobretudo importante no caso de disciplinas cumulativas, como a Matemática, em que cada aprendizagem está dependente de (e assenta em) aprendizagens anteriores. Apesar deste reconhecimento, a formação destes professores tende frequentemente a ser negligenciada devido à crença, errónea, de que ensinar nos primeiros anos é fácil e simples. Ora, apesar de se tratarem assuntos elementares, estes não são fáceis nem simples de ensinar, sendo basilares e estruturantes e constituindo os alicerces de aprendizagens futuras.

Em Portugal, os últimos anos têm sido frutíferos em alterações nas políticas e práticas de formação de professores. As reestruturações dos cursos de formação inicial implicaram alterações, nalguns casos substanciais, em termos do número de horas (ECTS) dedicadas a cada uma das áreas curriculares específicas que são alvo do trabalho dos professores. A premissa subjacente a essas alterações é a de que é fundamental que o professor possua um amplo e sólido conhecimento sobre os diferentes tópicos que leciona. Com efeito, a investigação tem mostrado que a confiança, a criatividade e a inovação dos professores está relacionada com um forte conhecimento das matérias. Mostra também que quando os professores não têm uma preparação adequada são inflexíveis e reprodutores de práticas mais tradicionais por si vivenciadas, não conseguindo criar um bom ambiente de aprendizagem. Por outro lado, também se sabe que quando se lida com professores interessa considerar os contornos do seu próprio conhecimento e da sua mobilização no decorrer das suas práticas.

Deste modo, é fundamental preparar professores que, para além de dominarem os conteúdos, também conheçam a didática específica desses conteúdos de forma a ajudar os seus alunos a aprenderem. Por fim, tendo em conta que os professores dos primeiros anos são generalistas, o que significa que lecionam uma multiplicidade de áreas, desde o Português à Matemática, passando pelo Estudo do Meio e pelas Expressões, torna-se ainda claro que a sua formação terá que ser diferente da de um Matemático ou de um Cientista ou de um Artista, embora seguramente não menos exigente nem mais simples, ganhando, isso sim, contornos singulares em função da complexidade do currículo que tem de implementar. A formação dos professores (dos primeiros anos de escolaridade) não é fácil nem simples. Um dos meus desafios para este ano é o de continuar a desenvolver o meu contributo para a renovação dessa formação.


Professora do Instituto de Educação da Universidade do Minho